O Ministério Público de Goiás denunciou cinco pessoas por homicídio culposo no caso do jovem que morreu em Goiânia ao ser prensado pelas lâminas de um misturador de ração na Universidade Federal de Goiás (UFG), em 2017.
A denúncia é do promotor de Justiça Vilanir de Alencar Camapum Júnior.
O universitário Lucas Silva Mariano, 21 anos, morreu enquanto participava de uma aula prática no setor de confinamento experimental de bovinos de corte, na Escola de Veterinária da UFG, no Campus Samambaia, setor Conjunto Itatiaia.
Foram denunciados o tratorista Lucas de Sousa; os professores da Escola de Veterinária Juliano José Rezende Fernandes e Vitor Rezende Moreira Couto; o diretor da Escola, Marcos Barcellos Café; e a gestora do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (Siass), Edinamar Aparecida Santos da Silva.
Como tudo ocorreu
Segundo os autos do processo, estudantes dos cursos de Agronomia, Zootecnia e Medicina Veterinária juntaram-se para uma aula prática às 7h do dia 27 de junho do ano passado.
No período da tarde, as aulas prosseguiram com a divisão de dois grupos para cumprimento de tarefas.
O tratorista Lucas de Sousa esteve em um dos grupos junto à vítima e mais dois outros alunos.
As atividades delegadas pelo tratorista determinavam a criação de quatro tipos de rações para diferentes animais.
O processamento se dividia em três fases, passando pelo depósito do bagaço de cana no misturador, transporte do vagão até o galpão em que seriam acrescentadas sacas de concentrado,e, por fim, levar a máquina até a caixa d’água para misturar os produtos.
Esse processo, que é rotineiro entre as turmas da faculdade, oferecia alguns riscos, mas até então não havia histórico de acidente.
Como a máquina era alta, o acesso ao seu topo se dava por meio de escada.
E foi por isso que, por volta das 13h30, a vítima subiu no misturador.
Lá de cima, recebeu balaios do bagaço para que os jogasse dentro da máquina.
Na segunda fase do processamento, já em outro galpão, Lucas Mariano retornou ao topo da máquina para despejar ali dentro sacas de 40 kg de concentrado.
Com receio de se desiquilibrar e cair, a vítima pediu ao tratorista que ficasse dentro da máquina para continuar auxiliando o abastecimento.
Em seguida, Lucas saiu da máquina, que foi transportada pelo tratorista à caixa d’água.
Lá, deu inicio à mistura dos produtos com uma mangueira d’água, para, dali a pouco, acionar o misturador.
Parte dois
Ao começarem a preparar a segunda ração, todo o processo seria refeito. Nesse caso, a vítima continuou no interior do misturador.
Ao transportar o misturador para o galpão de concentrando, Lucas pegou uma carona e permaneceu dentro da máquina.
Os outros colegas foram à pé, do lado de fora, e chegaram até a brincar com o amigo.
A prática de pegar carona de dentro do misturador era comum.
Ao finalizar a segunda parte do processo, que consistia no depósito do concentrado, o tratorista disse a Lucas que ele poderia sair.
Depois, virou-se para o lado oposto em diração à escada. Neste momento, o professor Victor visitou o local para tratar de assuntos técnicos.
Em seguida, o tratorista conduziu a máquina até a caixa d’água, crente de que já não havia mais ninguém ali dentro.
Ao chegar à última fase do processamento, aguardou 15 segundos para estabilizar a balança, e, ato contínuo, ligou a tomada de força, acionando as lâminas do misturador.
Lucas ainda estava no interior da máquina, e morreu pela ação cortante das lâminas.
O tratorista só foi se dar conta de que a vítima ainda estava dentro do misturador quando uma colega gritou aos prantos informando que Lucas ainda não havia saído de lá.
Imediatamente, ele desligou a máquina e foi ao socorro da vítima, que já não apresentava mais sinais vitais.
O tratorista Lucas confessou que havia a recomendação do professor de acionar as máquinas apenas depois de verificar se não havia ninguém lá dentro.
Acusão
Além do tratorista, as outras quatro pessoas foram acusadas pelo promotor sob a alegação de que elas sabiam dos atos de risco praticados e que, mesmo assim, permitiram afrouxar a fiscalização.
Segundo apurou a investigação, o professor Juliano delegou ao tratorista, ainda que implicitamente, tarefas de chefe imediato, professor ou coordenador de estágio.
Lucas reconhecou que nunca havia feito curso técnico de manuseio de máquina, e que o conhecimento adquirido era proveniente de treinamento tido por outros técnicos do confinamento.
Assim, o promotor destacou a conduta negligente e omissa dos responsáveis pelas dinâmicas das aulas práticas.
Agora, cabe à Justiça analisar a denúncia e dar prosseguimento à investigação para eventual condenação.
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