O vazio de um projeto divino
O cidadão goianiense não está nem aí se o número de cadeiras na Câmara Municipal vai aumentar de 35 para 37 nos próximos dias. E nem quer saber se a medida está respaldada constitucionalmente pelo aumento do número de habitantes: 1 milhão 430 mil em 2015, segundo dados oficiais do IBGE. A discussão que menos importa é a legalidade do ato, mas sim o papel que os vereadores assumiram nas últimas legislaturas. Com duas ou mais cadeiras, a imagem não anda nada positiva.
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Falta do que fazer
A última pérola naquela Casa de Leis partiu do suplente de vereador Eudes Vigor (PSDB), apresentando projeto que cria o Dia de Ação de Graças em Goiânia. Já houve unanimidade favorável na primeira votação e a proposta aguarda agora o segundo referendo em plenário. Em sua justificativa, o parlamentar explica que a quarta 5ª feira do mês de novembro será comemorada como “um dia de gratidão a Deus”. Parem as máquinas: o nobre edil resolveu pular o rio Meia Ponte com vigor. Trocadilho infame à parte, a constatação é que os parlamentares estão com tempo de sobra para bobagens sem fim.
Gratidão ao extremo
Fica claro que o único objetivo do projeto é copiar a tradição do feriado de Ação de Graças comemorado nos Estados Unidos e no Canadá. Como se fosse possível nivelar modelos de sociedade tão distintos. Pra piorar o enredo de uma história sem pé nem cabeça, o calendário brasileiro já conta com uma data específica para o Dia de Ação de Graças: 17 de agosto, definida há 67 anos. Não se discute o tamanho da gratidão dos vereadores a Deus, mas a sociedade goianiense espera bem mais de seus representantes.
Capital de problemas
Além de legislar, a principal missão de um vereador é fiscalizar as ações da gestão municipal. E Goiânia enfrenta um turbilhão de dificuldades no âmbito operacional e financeiro. A administração do prefeito Paulo Garcia (PT) atinge a marca inglória de 70% de rejeição entre os moradores e mesmo assim os parlamentares têm perdido tempo com a discussão sobre datas comemorativas sem a menor necessidade. Nem parece que a imensa maioria vai tentar se reeleger em outubro. Até a gratidão divina tem limite.
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