A sensatez do ministro sobre Itumbiara
Não gostaria de ter o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, como aliado. Suas declarações costumam fragilizar e comprometer uma das áreas mais sensíveis e complexas do Governo, justamente pelo vínculo com a Polícia Federal em período de intermináveis operações. Mas o auxiliar do presidente Michel Temer deu uma dentro ao declarar na manhã desta quinta-feira, durante visita ao vice-governador José Eliton, que o atentado ontem em Itumbiara representou “um ponto fora da curva” no processo eleitoral de Goiás.
Prudência e averiguação
Alexandre de Moraes fez o que se espera de um homem público. Procurou se cercar de todas as informações, oficiais e dos bastidores da investigação, antes de emitir juízo sobre o tiroteio que matou três pessoas, entre elas o ex-prefeito e candidato José Gomes da Rocha (PTB), maior liderança política da região sul do Estado. Ao contrário de outras autoridades que tentaram enxergar motivação política no ato desesperado e irracional do servidor público Gilberto Amaral, o ministro acrescentou uma dose de sensatez ao analisar o caso.
Vitória líquida e certa
Qualquer conhecedor da realidade política de Itumbiara sabe que não havia clima para ameaça de morte e muito menos troca de tiros. A vitória de Zé Gomes aconteceria no próximo domingo, fato que até mesmo seu principal oponente, Álvaro Guimarães (PR), reconhecia. Ambos integravam a base de apoio do Governo estadual. A única expectativa da oposição em Itumbiara era a impugnação da vitória do ex-prefeito em face dos processos judiciais que o atormentam há vários anos.
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Jeito espalhafatoso de ser
Se politicamente estava tudo dominado para José Gomes da Rocha, o mesmo não acontecia em suas relações pessoais. Folclórico e carismático, o líder de 58 anos – 40 deles de vida pública – sabia colecionar uma infinidade de fãs e, paralelamente, um grupo restrito de desafetos por seu jeito espalhafatoso de assumir e resolver problemas. As circunstâncias do atentado brutal e a comoção na cidade comprovam que a relação de José Gomes com Itumbiara era radical: ame-o ou deixe-o. Gilberto, infelizmente, preferiu não apenas deixá-lo de lado, mas tirar-lhe a vida por desavenças de relacionamento e troca de agressões verbais e físicas.
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Quanto pior, melhor
Se o mesmo episódio tivesse ocorrido em Catalão ou Posse, dois municípios onde a disputa eleitoral segue à flor da pele e com reivindicação de tropas do Exército para manter a ordem, não haveria surpresa. Mas em Itumbiara não. O ministro Alexandre de Moraes enxergou logo a realidade, ao contrário de uma minoria com visão míope, dissimulada e oportunista. Para essa turma – do quanto pior, melhor – o que importa é criar um clima político que a beneficie eleitoralmente no próximo domingo.
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