A carência de Sérgio Moro
Governador Ronaldo Caiado e prefeito Iris Rezende capricharam nos elogios durante recepção ao ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) na manhã desta segunda-feira.
Faz parte do protocolo, é verdade, mas se existe um ser humano carente de afagos e solidariedade, no momento, atende pelo nome de Sérgio Moro.
Quanto maior sua projeção, maior a quantidade de desafetos íntimos e aleatórios. Nem todos públicos.
Iris afirmou que Moro “ficará na história como o homem que mudou o país”. Caiado garantiu que a “guinada na segurança pública em Goiás passa pelo apoio incondicional do ministro”.
Espinhos
A justificativa para o evento foi uma visita técnica a Goiânia por fazer parte do programa “Em Frente, Brasil”. Sérgio Moro agradeceu as manifestações de apoio e elogiou a parceria entre os governos federal, estadual e municipal.
Tudo como manda o manual das boas relações. Nada suficiente para amenizar a estrada de espinhos que o ministro está percorrendo em Brasília.
O ex-chefão da Operação Lava Jato se vê na obrigação de aprovar o pacote Anti-Crime no Congresso Nacional. Ele tem pretensões eleitorais no futuro, portanto necessita de algo palpável para apresentar à sociedade.
As maiores resistências partem exatamente daqueles que se apresentam como “aliados” na empreitada: presidente Jair Bolsonaro (PSL) e presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).
Além da natural hostilidade política na briga por espaço eleitoral, Moro ainda é bombardeado por sucessivos casos de violência que comovem o país.
Ágatha e Wallison
O mais recente deles foi o trágico assassinato da estudante Ágatha Félix, de 8 anos, na periferia do Rio de Janeiro. Vítima de bala perdida, sob suspeita de que tenha partido de fuzil utilizado por um policial.
Durante sua passagem por Goiânia, o ministro também se viu obrigado a comentar a não menos trágica morte do soldado da Polícia Militar, Walisson Montanha.
Ele levou um tiro na cabeça depois que a viatura onde estava foi atingida por vários disparos de bandidos no Anel Viário, em Aparecida de Goiânia.
Acontecimentos desta natureza interferem diretamente no humor dos parlamentares que estão avaliando e irão votar o conjunto de leis de combate à criminalidade.
Articulador
Longe do tempo em que mandava prender e soltar, Sérgio Moro é hoje um refém do balão chamado humor político. Sobe, desce, infla e esvazia na mesma velocidade. E tem chance de estourar a qualquer momento.
Os elogios de Caiado e Iris, que seriam dispensados a qualquer auxiliar do governo federal de plantão (esquerda ou direita), correspondem a um sopro na fogueira que cerca o ministro da Justiça e Segurança Pública.
Sérgio Moro precisará se revelar um excepcional articulador para impedir que sua reputação seja aniquilada. E a ironia: justamente por labaredas criadas pelo grupo político que decidiu seguir.
Sérgio Moro presta condolências à família de policial morto em Aparecida
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