Após a mais recente crise enfrentada pelo Palácio do Planalto com a divulgação de áudios gravados pelo empresário Joesley Batista, até mesmo a base do presidente Michel Temer (PMDB) passou a defender sua saída. É o caso do senador Ronaldo Caiado (DEM). Segundo ele, impeachment é uma saída para a relutância de Temer em renunciar.
“Crise política se resolve com política. E a necessária mudança constitucional pode ser obtida por um pacto suprapartidário que contemple, enfim, a voz das ruas”, defendeu. O senador defende a antecipação das eleições presidenciais, que ocorreriam em 2018, por meio de emenda constitucional.
Caiado disse ao Folha Z em abril que deseja se candidatar ao Governo de Goiás em 2018. Porém, na possibilidade de eleições indiretas para a presidência, o parlamentar já adiantou que colocará seu nome no pleito.
O goiano disse que o governo de Temer frustrou as expectativas da população ao optar por uma gestão recheada de escândalos. “A cada ministro que saía, envolto em escândalos, a reputação e confiabilidade de seu governo derretiam. Se a economia, entregue à gestão de técnicos competentes, continha a sangria herdada do desgoverno anterior, a credibilidade política, que deveria avalizá-la, definhava. A melhora dos indicadores, anunciada com euforia, não tinha, pois, sustentabilidade política”, afirmou.
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Segundo o próprio senador, sua posição a favor de eleições diretas é a mesma desde 2015, antes mesmo de confirmado o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Veja no vídeo ao lado.
Leia na íntegra o artigo do senador Ronaldo Caiado sobre a atual crise política nacional.
Sem renúncia de Temer, resta o impeachment – pelo senador Ronaldo Caiado
Os acontecimentos desta semana, que sepultaram o governo Temer, evidenciam o estado terminal da política brasileira —e devolvem a economia à UTI, para onde a gestão desastrosa do PT a havia conduzido. Economia e política são, na verdade, indissociáveis.
Não é possível que uma esteja sã quando a outra está doente. A esperança de que o governo Temer representasse efetiva mudança no país, depois de 13 anos de escândalos e gestão temerosa, fez com que a economia, ainda sem melhorar, parasse ao menos de piorar.
Mas o governo Temer frustrou essa expectativa. Perdeu a oportunidade histórica de atender o clamor da sociedade, que, em megamanifestações de rua, sem precedentes na história do país, pedia justiça, transparência e elevação do padrão moral da política.
Temer, inversamente, optou por formar um ministério em que figuravam alguns personagens associados às piores práticas. Em vez de um governo de notáveis, optou por um governo de notórios.
Não podia dar certo. A cada ministro que saía, envolto em escândalos, a reputação e a confiabilidade do governo derretiam. Se a economia, entregue à gestão de técnicos competentes, continha a sangria herdada do desgoverno anterior, a credibilidade política, que deveria avalizá-la, definhava. A melhora dos indicadores, anunciada com euforia, não tinha sustentabilidade política.
Dependia de reformas, sobretudo a da Previdência, que o governo, mesmo antes das denúncias desta semana, não estava em condições morais de impor à sociedade. Agora, muito menos.
Um governo desacreditado não pode pedir sacrifícios à sociedade, sobretudo a uma já suficientemente penalizada, com 14 milhões de desempregados, perplexa diante do circo de horrores que a Lava Jato exibe há mais de três anos.
O país só terá condições de retomar a agenda reformista —e com ela a restauração efetiva da economia— em outro ambiente político.
O governo Temer acabou. O presidente, político experiente e pragmático, sabe disso, mas insiste em desafiar a crise, em defesa de sua imunidade institucional. O cargo lhe garante foro privilegiado. Com isso, presta um desserviço ao país —e a si mesmo.
Renúncia, em prol de algo maior —no caso, o interesse público—, é também ato de grandeza. Temer está diante de um momento decisivo de sua biografia, em que definirá em que termos a história irá tratá-lo. Se insistir em ficar, será supliciado.
Não estão em pauta suas chances de absolvição no campo jurídico. Politicamente, ele já foi condenado pelo conjunto da obra. Convém lembrar que Fernando Collor, condenado politicamente, foi absolvido pelo STF. O tribunal político tem régua própria —e é implacável quando se quebra o cristal da confiança.
É possível ainda que o presidente caia em si e perceba que o melhor serviço que pode prestar à recuperação da economia é permitindo a salvação da política.
Não percebeu que reformas de tamanha profundidade —e aí destaco a da Previdência, por sua profunda repercussão na vida de cada trabalhador— não se restringem à contagem de votos no Parlamento. É preciso que tenham a chancela do cidadão, que só a dará mediante o fator confiança, que inexiste.
Sem renúncia, resta o doloroso caminho do impeachment ou o (mais provável) da cassação da chapa Dilma-Temer. Só eleições diretas podem renovar e oxigenar o ambiente poluído da política. Crise política se resolve com política. E a necessária mudança constitucional pode ser obtida por um pacto suprapartidário que contemple, enfim, a voz das ruas.
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