O número de mortes no trânsito aumenta de forma assustadora e a embriaguez ao volante é uma das principais causas. No dia 10 de outubro, nos deparamos com essa realidade ao assistir imagens chocantes de um condutor embriagado que contribuiu com a estatística, ao atropelar e matar uma jovem mãe de apenas 35 anos. O acidente ocorreu na Avenida Rio Verde em Aparecida de Goiânia. Quanto à família da vítima, resta somente a dor ao elaborar o luto e a saudade daqueles com quem jamais terão o privilégio de conviver novamente.
Não é momento de achar culpados, mas é tempo de nos conscientizarmos de que o trânsito é uma questão de saúde pública. Vale lembrar que o acidente de trânsito não é um agravo que surge no mundo moderno. Segundo Marin & Queiroz (2000), desde a incorporação do automóvel no cotidiano das comunidades, o acidente de trânsito tornou-se um importante problema social.
Apesar dos grandes avanços na segurança dos veículos e investimentos na fiscalização e criação de leis como Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503, 1997) e Lei Seca (Lei n. 11.705, 2008), é comum a comercialização de bebidas alcoólicas próximo às rodovias e nas lojas de conveniências que funcionam vinte quatro horas, normalmente localizadas em postos de combustíveis. Em suma, no nosso país há uma tolerância social exacerbada em relação ao comportamento de beber e conduzir veículos.
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A forma de se comportar no trânsito é uma das principais características responsáveis pelos acidentes. No entanto, há uma grande preocupação em estudar “como” o acidente acontece e em que condições ele ocorre. Nesse sentido, o comportamento do condutor está diretamente ligado aos índices de acidentes de trânsito. Portanto, é importante averiguar os fatores de risco e os aspectos que afetam as habilidades cognitivas ao dirigir.
Estudos apontam o uso de álcool como um dos maiores fatores de risco para a ocorrência de lesões graves e mortes. Conforme Neto et al. (2012), a ingestão de bebidas alcoólicas proporciona ao condutor uma falsa noção de confiança e controle, prejudicando habilidades que são indispensáveis para o ato de dirigir, como atenção, coordenação, acuidade visual, julgamento de velocidade, tempo e distância.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre todos os países, o Brasil conta com o quinto maior número de mortes ocasionadas por acidentes de trânsito. Estudos da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego revelam que do total de acidentes de trânsito considerados, trinta por cento dos casos envolveram o uso de bebidas alcoólicas (Siena, 2011).
Para Rozestraten (1988), o trânsito, por definição, é um comportamento social, em que todos os participantes devem atuar de forma a permitir que cada participante chegue com segurança a seu destino. Dessa forma, o comportamento desajustado do condutor pode trazer prejuízos individuais e coletivos. Segundo esse mesmo autor, muitos acidentes são cometidos por motoristas que não se atentam para as normas do trânsito.
Sendo assim, quero finalizar ressaltando a fala de Rozestraten: “que cada participante chegue com segurança a seu destino”. Até quando ficaremos inertes a situações como estas que citei no inicio da reflexão. O trânsito é um espaço coletivo que sofre com os comportamentos desajustados de alguns “indivíduos”, principalmente aqueles que são motivados pelo uso de bebidas alcoólicas. Portanto, já é hora de abrir mão do ato irresponsável de beber e matar.
Roberto Martins da Silva é Psicólogo do Trânsito
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