Ninguém sai mais à rua seguro de que vai voltar ao seu lar, muitas pessoas morrem e deixam famílias em sofrimento, por causa de um assalto, uma bala perdida ou outra causa de violência. Cada dia que passa a violência aumenta rapidamente, em vez de todos serem unidos, parece que separam-se. Não sabemos o que será o dia de amanhã, há tanto medo dentro de nós que não pensamos em outra coisa senão a violência.
A banalização do crime está prejudicando a imagem de um país que pretende tornar-se uma potência política e econômica, solucionar este problema se tornou um desafio para os atuais governantes.
Conforme dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) o Brasil está entre os 10 países que mais matam por armas de fogo. As estatísticas, além de nos colocar em uma desagradável posição no ranking mundial, expõem a triste realidade vivida por brasileiros, de norte a sul do país. O Atlas da Violência 2017, divulgado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que o Brasil continua tendo dificuldade de controlar as mortes violentas.
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O Brasil mata. Mata muito. Entre 2001 e 2015 houve 786.870 homicídios – equivalente à população de Frankfurt, Sevilha ou João Pessoa – a enorme maioria (70%) causados por arma de fogo e contra jovens negros. Os números da violência no maior país da América Latina atingem dimensões ainda mais preocupantes ao se compararem com guerras internacionais deste século. Desde que começou o conflito sírio, em março de 2011, morreram 330.000 pessoas. A guerra de Iraque soma 268.000 mortes desde 2003. Brasil, com 210 milhões de habitantes, é o país que mais mata no século XXI. Foram mais de 1 milhão de homicídios entre 1995 e 2015, tempo comparável à Guerra do Vietnã, que deixou 1,1 milhão de civis mortos.
O cenário é ainda mais preocupante se considerado apenas a evolução dos homicídios na faixa etária dos 16 aos 17. Quase metade das mortes matadas de crianças e adolescentes acontecem nesta idade. Se as coisas continuarem nesse ritmo, vamos precisar de mais necrotérios e não mais prisões, já que os parlamentares só querem saber de reduzir a maioridade penal.
O país vive uma epidemia de violência, que tal como um problema de saúde pública, é um obstáculo para o crescimento econômico. O custo dessas mortes precoces é de 1,5% do PIB, segundo contas do IPEA isso é o que esses jovens produziriam ao longo da vida se estivessem no mercado de trabalho. A morte de jovens contribui também para a mudança no perfil da pirâmide etária brasileira, que tem vivido um estreitamento de sua base e um alargamento do topo provocados pelo aumento na expectativa de vida dos brasileiros e redução do número de crianças e jovens no país.
Percebe-se que a falta de políticas públicas que abordem a segurança como um problema crônico e prioritário é um dos grandes fatores para esse cenário, mas o problema vai muito mais além. A falta de investimento do Estado em leis voltadas à inclusão social tem sido tema frequente de debates na esfera política. Mas na mesma proporção e velocidade dos projéteis, precisamos é de ações concretas e práticas para se reverter esse quadro.
O decreto do presidente Michel Temer (MDB) que determinou intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, em vigor desde a última sexta (16), foi aprovado na Câmara dos Deputados nesta terça (20). A medida, cujo texto agora será submetido à votação do Senado, é inédita. Ainda há muitas dúvidas sobre como se dará a operação prevista para até 31 de dezembro deste ano, mas o assunto já alimenta discussões sob os mais distintos pontos de vista.
Alguns defendem que há o risco de que a atuação militar seja um desperdício de dinheiro, argumentando que o problema do Rio exige uma estratégia de longo prazo focada no fortalecimento das polícias assim como na aplicação de estratégias efetivas de saúde e planejamento urbano. A oposição acusa o governo do presidente Michel Temer de ter assinado o decreto de intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro como uma forma de encobrir sua falta de votos para aprovar a reforma da Previdência.
Entendo que o problema da violência no Brasil deve ser combatido desde a raiz. Será que o Brasil realmente precisa de mais presídios? Será que não seria o caso de começar a educar melhor as nossas crianças que são o futuro do país?
Ao parar para refletir sobre a relação entre educação e violência podemos perceber que a educação é o pilar principal para o desenvolvimento de um país. Ela trará não só conhecimento de português, matemática, física ou química, mas também uma série de benefícios que atingirá diretamente o governo e toda a população. Sabe por quê? Porque quanto maiores são as taxas de escolarização, menores são os registros de violência.
Como o problema da segurança pública no Brasil é algo que já está em estágio avançado, cabe às autoridades brasileiras reestruturar o sistema carcerário brasileiro e a investir mais em nossas escolas. Mais do que a segurança pública, a educação pública brasileira clama por mais investimentos e uma atenção especial e diferenciada.
Enquanto seguir colocando a educação em segundo plano, o Brasil vai continuar sendo subdesenvolvido e perdendo muitos jovens para o crime organizado, colocando a população como refém do medo.
ALCIDES RIBEIRO FILHO
Empresário, professor e diretor da Faculdade Alfredo Nasser
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