A idolatria ao crime e o avanço das leis de contenção cultural: Oruam e o alerta que vem das ruas
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Por mais que a cultura urbana reflita as realidades das periferias e os conflitos sociais do país, há um ponto de ruptura que não pode ser ignorado: quando a arte serve de vitrine para a romantização do crime.
O caso mais recente, protagonizado por Oruam, filho de Marcinho VP, um dos chefes do Comando Vermelho, escancara esse debate.
MC Poze do Rodo
Em manifestação nesta 3ª feira, 3, caótica nas imediações do presídio de Bangu 3, no Rio de Janeiro, o cantor subiu em ônibus, inflamou uma multidão e viralizou nas redes sociais enquanto aguardava a soltura de MC Poze do Rodo.
A manifestação terminou com intervenção da polícia, gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Oruam, cujo nome verdadeiro é Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, já vinha sendo alvo de projetos de lei que visam impedir o uso de verbas públicas para contratação de artistas que façam apologia ao crime.
Em São Paulo, a vereadora Amanda Vettorazzo (UB) lançou a chamada Lei Anti-Oruam, nome extraoficial que ganhou força após a criação de um site específico para defender a proposta.
A lei, mesmo sem citar diretamente o artista, deixa clara a intenção: barrar eventos que financiem narrativas criminosas sob o disfarce de expressão cultural.
Congresso / Aparecida de Goiânia
Esse movimento ganhou eco nacional.
O deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP) apresentou projeto semelhante no Congresso, reforçando a tese de que o dinheiro público não pode subsidiar artistas que reverberam discursos ligados ao crime organizado.
Já em Aparecida, o vereador Dieyme Vasconcelos (PL) encampou a ideia e ampliou o debate local.
Há quem veja censura, mas o pano de fundo é outro: trata-se de proteger o mínimo civilizatório.
Rap e trap
Não se trata de criminalizar a periferia ou desvalorizar o rap e o trap, mas de traçar linha clara entre arte e exaltação ao tráfico.
Oruam pode até cantar para milhões, mas não com o microfone pago pelo cidadão que convive com a realidade dura da violência, muitas vezes romantizada em letras que ignoram suas consequências sociais
É hora de discutir não só a liberdade artística, mas a responsabilidade pública com o que se financia.
Quando o palco vira palanque para o crime, o microfone deixa de ser instrumento de cultura e vira arma simbólica contra o próprio tecido social.
E isso, nem Aparecida nem o Brasil podem mais tolerar.
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