Uma pandemia que tem poder de contágio irrefreável e vem deixando a comunidade internacional sem saber o que fazer. Não, não é do ebola que falo: o assunto de hoje é o apocalipse zumbi. Tema muito cultuado na cultura pop, rivalizando até mesmo com vampiros, fantasmas e super-heróis, os zumbis estão bem retratados na TV.
Do drama existencial ao “trash” escrachado, “The Walking Dead” e “Z Nation” vão de um extremo a outro da contemplação humana partindo da mesma matéria prima. Vamos começar pela primeira delas, que é mais sisuda, doutrinadora, e retornou com a quinta temporada no último domingo (12), nos EUA, e veio ao Brasil na quarta-feira (14), pela Fox.
“The Walking Dead”
O primeiro episódio do quinto ano de “Walking Dead” bateu todos os seus próprios recordes de audiência, alcançando 17,3 milhões de espectadores na data da estreia. Os números anteriores foram 7,26 milhões em 2011, 10,87 milhões em 2012 e 16,11 milhões em 2013. Mas as estatísticas são mais impressionantes quando constatamos que a série de mortos vivos da AMC (canal fechado, diga-se) teve mais audiência até do que a comédia – também de mortos vivos – da CBS “The Big Bang Theory”.
Os inacreditáveis números de “Walking Dead” refletem a excelência de roteiro e, principalmente de produção, não há dúvida, mas não são proporcionais com um crescimento de qualidade nos episódios. Nota-se um amadurecimento da trama e dos personagens todos, talvez com algumas exceções, como Tyreese. Mas, no geral, vemos situações mais sombrias e com muita possibilidade de drama.
“Z Nation”
Seguindo outra abordagem para o universo em questão, “Z Nation” se estabelece cada vez mais como algo que merece ser visto. A cada novo episódio, a história se entrega mais à simples execução de missões e ao entretenimento sem compromisso com a plausibilidade e a verossimilhança. E, mesmo que não tenha sido esse o planejamento para o piloto, o “trash” é caminho para a consagração do seriado.
Não só de analogias com a apatia e o egoísmo humanos vive o gênero zumbi. Aqui vale relembrar “In The Flesh”, da BBC, que, de tanto engendrar na crítica social, acabou se tornando sacrifício para assistir e perdeu todo o poder de “contagiar”…
Zumbi bom é zumbi morto
Comparando essas séries apocalípticas, duas cenas são ilustrativas daquilo que essa coluna argumenta. Primeiro, o S05E01 de “Walking Dead” colocou os personagens favoritos dos espectadores à beira da morte num frigorífico humano. O choque daqueles minutos teve força o bastante para crermos na possibilidade do pior. Então, já que o seriado propõe seriedade e tensão, que deixe para trás os cansativos dramas de herói com dilemas morais.
Enquanto isso, o S01E04 de “Z Nation” gerou um dos momentos mais cômicos dos ano. Doc, personagem interpretado pelo bom Russell Hodgkinson, é jogado num duto de ar e acaba enrolado em fios e preso frente a frente com um zumbi em decomposição. Vendo-se em situação tão desoladora, Doc faz a única coisa que lhe restava: acende seu último cigarro de maconha.
Mas o inacreditável da cena é a conclusão. Inalando a fumaça do cigarro, o zumbi começa a sentir os efeitos da maconha. Larica por cérebros? Talvez. Mas, com certeza, boa televisão. Isso para não falar do “sharknado” com zumbis (z nado) genialmente retratado no quinto episódio.
Em resumo, “Walking Dead” ainda pode se enrolar na sua profundidade e reflexão doutrinadora. Na contramão da pieguice, “Z Nation” só tem a ganhar com a sua genialidade irresponsável.
Marco Faleiro é estudante de jornalismo e já tem mais de duas mil horas de seriados assistidos – [email protected]
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