“Sense8” estreou sem o alarde costumeiro da Netflix nas redes sociais. Produção dos Watchowski (“Matrix”, “V de Vingança”, “Cloud Atlas”), a série tinha uma sinopse para fisgar qualquer fã de ficção científica, com mistério, conspiração e misticismo. Mas, depois de conhecidos os 12 episódios, a sensação é de que “Sense8” é diferente do que muitos esperavam. E não muito bom.
Nível baixo
Uma declaração tão forte não é gratuita. A série passou longe do nível de excelência dos principais produtos do portfólio da gigante do “streaming”. “House of Cards” e “Orange is the New Black” jogaram a barra para a estratosfera e, quando os Watchowski apresentaram um seriado cheio de lugares comuns, saídas fáceis e pirotecnia maquiados pela modernidade subversiva, foi frustrante.
Evidente que a proposta de “Sense8” nunca foi de se tornar referência no gênero ou de revolucionar a maneira como entendemos televisão – essas são prerrogativas das outras duas citadas. Afinal, conhecemos os irmãos criadores de “Matrix” e sabemos dos altos e baixos da sua carreira. Mas, em análise um pouco mais refletida, o roteiro de “Sense8” é tão raso quanto o de qualquer romance de sessão da tarde.
São várias passagens dignas de cinema pipoca: uma em que um rapaz derrota uma gangue armada até os dentes apenas lutando kung fu, em que outro explode com lançador de granadas o carro do inimigo e em que a mulher dá ecstasy para o pai (este mais parecido com um bonecão que só sorri e é bonzinho com a filha) que vai se apresentar num concerto. Para o bom e velho entendedor de cinema, isso tudo é “massa véio”.
Nível alto
Apesar de toda essa ressalva, seria absurdo ignorar as importantíssimas discussões que a série coloca em pauta. Identidade de gênero, liberdade sexual, individualidade e as várias formas de amor e de organização social são tema de “Sense8”. A pirotecnia de picaretagem serve de combustível para sustentar histórias inclusivas, democráticas e libertadoras.
O mais interessante é o caminho aberto por “Sense8”: essas histórias não mais precisam ser somente “cults” e restritas ao círculo dos universitários “hipsters”. Podem também ser contadas com capacidade técnica no topo de tudo que se produz, perícia cirúrgica na montagem de um grande filme de 12 horas e plano de fundo “syfy” conspiratório-inverossímil-divertido.
Afinal, vale a pena ver “Sense8”. Mas leve um casaco e não diga que eu não avisei.
Marco Faleiro é estudante de jornalismo e já tem mais de duas mil horas de seriados assistidos – [email protected]
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