Falta franqueza a Iris e Paulo
Ninguém é capaz de prever o tempo de duração de uma aliança. Meses, anos ou décadas. O importante é que os protagonistas não se omitam de assumir publicamente, se necessário, os motivos que levaram ao rompimento. A união entre PMDB e PT em Goiânia teve início em 2008 por mero interesse eleitoral do ex-prefeito Iris Rezende, pré-candidato ao governo, e aval do suplente de deputado estadual Paulo Garcia, mais tarde vice-prefeito eleito no primeiro turno.
Série de desentendimentos
Iris e Paulo foram os pais de uma criança forjada em laboratório, mas isso em nada importava ao morador de Goiânia, amplamente satisfeito com os rumos da administração municipal. A fase de irmãos siameses, do tapinha nas costas, da bajulação extrema durou de 1º de abril de 2010, data em que Iris deixou a prefeitura, até a reeleição de Paulo em outubro de 2012. Daí em diante foi um desentendimento atrás do outro: ex-prefeito por ver sua influência esvaziada e prefeito por acreditar numa força política inexistente.
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Dupla em decadência
A temperatura nos bastidores foi subindo lentamente. Ora pelas trapalhadas administrativas de Paulo Garcia (tentativa de reajuste abusivo do IPTU, atraso nas obras e péssima manutenção dos serviços públicos) ora pelos insucessos eleitorais de Iris Rezende (2010 e 2014). Debilitados, os dois personagens perderam musculatura política e passaram a encontrar no companheiro a responsabilidade pelos insucessos. Oportunidade de ouro encontrada por Ronaldo Caiado (DEM) para ocupar a vaga do PT.
Chega de prepostos
Agora que a insatisfação é pública, Iris Rezende e Paulo Garcia deveriam deixar seus prepostos de lado. Agenor Mariano, Bruno Peixoto, Clécio Alves, Paulo Rassi, Edilberto Dias, Luís César Bueno, Adriana Accorsi e Humberto Aidar não precisariam perder tempo com acusações diretas e indiretas em entrevistas. A realidade é que prefeito e ex-prefeito pecaram por deixar o interesse político superar o interesse administrativo em Goiânia.
Estilos divergentes
Não foi a primeira nem será a última vez que um casamento político chega ao fim por divergências e picuinhas. A crise no Imas existiu com Iris e continuou existindo com Paulo. Os problemas na Comurg aconteciam com Iris e continuaram acontecendo com Paulo. O inchaço na folha de pessoal, o questionamento sobre a qualidade das obras e os embates com a Câmara Municipal na mesma proporção. A diferença básica pró-Iris é que ele não governa pensando nos recursos que virão do governo federal, muito menos faz propaganda disso. Gestor nato, o ex-prefeito carrega o dom do pragmatismo e do pulso forte na tomada de decisões, características inversamente proporcionais ao estilo Paulo Garcia.
Início, meio e fim
Como em outras alianças do gênero, criador e criatura experimentaram momentos de lua-de-mel, juras de amor eterno, desconfiança, traições, acusações e rompimento. Existiram erros dos dois lados, como em qualquer união. O eleitor já identificou, e não é de hoje, a incompatibilidade de gênios e de liderança administrativa entre Iris e Paulo. O resto é conversa pra encher linguiça e página de jornal.
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