Por Marco Faleiro
A proposta do Governo de Goiás de minimizar o problema da Segurança Pública – com déficit de quase 10 mil policiais somando as duas corporações – por meio de concurso para policiais com salários de R$ 1,5 mil é, no mínimo, curiosa. A ideia é que sejam criadas 2,5 mil vagas de soldados de 3ª classe da Polícia Militar e 500 de agente de 4ª classe da Polícia Civil. Mas as consequências da ação podem ir muito além do que já divulgaram os seus críticos.
Inicialmente, o edital exigiria dos candidatos apenas o ensino médio. Pressionado por entidades representativas da categoria, o vice-governador e secretário de Segurança José Eliton (PSDB), voltou atrás e anunciou que os candidatos deverão ter concluído o ensino superior, passando o concurso a ficar de acordo com a prática que já é imposta às forças policiais brasileiras. A atualização mais recente sobre o assunto foi mais uma prorrogação: prova só em junho de 2017, no prazo máximo que permite que a legislação eleitoral.
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Menos de dois salários mínimos para um profissional que passa os dias arriscando a sua vida e tendo nas próprias mãos as vidas de quem está em situações de perigo. Menos de dois salários mínimos para pagar a parcela do carro, as compras do supermercado, o plano de saúde, o aluguel, o IPVA antecipado… Menos de dois salários mínimos para talvez morrer em nome dos questionáveis bons números da Segurança em Goiás.
Sobrecarregados
Hoje, cabos e soldados da PM precisam cumprir jornadas de trabalho absurdas para conquistar um salário melhor. As horas-extras, a R$ 16 ou R$ 18 cada, acabam por resultar em policiais sobrecarregados, cansados e sem condição para lidar com pessoas. Quem quer ser parado no meio da madrugada por um trabalhador nessas condições? E estar no lugar desse trabalhador, então, alguém quer?
Além disso tudo, a mísera remuneração dos novos concursados jogará para baixo os aumentos salariais atualmente reivindicados pelos agentes. E, em tempos de crise econômica, a máxima é trabalhar e esquecer os problemas, como bem nos recomenda o presidente interino Michel Temer (PMDB), jamais lutar por aumentos. Já o Governo estadual fala de “sacrifícios para atender a uma demanda da população”; mas, na verdade, o que quer a população?
Solução
Em análise um pouco mais atenta, é fácil imaginar que ninguém quer viver uma guerra civil, com milhares de criminosos armados de um lado e outros milhares de policiais, tão armados quanto, do outro. Não é uma mera questão de aumentar o contingente e investir no armamento das polícias, como querem fazer crer os mais simplistas.
Combater de forma eficaz a violência – e diversos outros problemas sociais atrelados a ela – não é do interesse dos burocratas que a cada quatro anos gastam milhões em campanhas eleitorais. Passa por investimentos pesados em acesso à educação, saúde e moradia, coisa que dificilmente veremos nos vindouros anos de “contenção de gastos”. Em resumo: as verdadeiras medidas para enfrentar o problema não cabem em comerciais cinematográficos cheios de helicópteros e fuzis.
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