Independente da crise financeira e da maior alta no valor das mensalidades em 19 anos (13,55%), o goianos não abrem mão do plano de saúde para evitar, a qualquer custo, a peregrinação por unidades públicas. Levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aponta redução significativa do número de beneficiários em todo o país – cerca de 2,5 milhões nos últimos dois anos – mas o total no estado diminuiu apenas 12 mil (2015/2016): 1 milhão 99 mil para 1 milhão 87 mil. A conclusão é simples: quem alcançou a condição de usufruir de um plano particular em Goiás faz das tripas coração para não voltar a depender do Sistema Único de Saúde (SUS).
Prioridade número um
O motorista Lúcio Aquino de Jesus, 37 anos, é um dos heróis da resistência. Admite sentir calafrios quando assiste na tevê o drama de cidadãos perambulando por unidades municipais e estaduais. Por isso não abre mão do plano de saúde para o casal, dois filhos menores e a mãe de 66 anos. “Já cortei despesas com alimentação, vestuário e na escola das crianças, mas o atendimento médico é fundamental”, observa. Lúcio pode se considerar felizardo por contar com o apoio financeiro da mulher, que é diarista, e com a aposentadoria da mãe. “Nossa prioridade é não depender do empurra-empurra público”, sentencia.
Privado x público
O diálogo com o motorista transcorreu exatamente na recepção de uma clínica particular. Ele, todo satisfeito, aguardando a consulta de rotina dos filhos. Um cidadão coberto de dignidade por estar proporcionando aos seus dependentes o melhor possível. Uma realidade bem distinta em relação aos dramas diários abordados pela imprensa nas portas dos Cais’s e hospitais da Região Metropolitana de Goiânia. É raro passar 24 horas sem que uma família não seja encontrada lamentando a falta de médico, de remédio, de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), enfim, do funcionamento básico da estrutura de atendimento.
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Quebradeira e ameaças
Já encerrando a conversa, Lúcio faz um desabafo: “Sou meio descontrolado e certamente perderia a cabeça se não pudesse fazer nada por um ente querido numa unidade de saúde”. Eis o X da questão que provoca revolta em parentes e amigos de pacientes: quebrar instalações e ameaçar profissionais de saúde nada resolve a curto prazo. Eles representam apenas uma parte da engrenagem desregulada. O buraco é bem, bem mais em cima.
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