Declaração de guerra
O Palácio do Planalto interpretou com declaração de guerra a decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) de devolver a uma medida provisória que aumentava tributos pagos por empresas de vários setores. A decisão foi anunciada depois do primeiro ato de rebeldia de Calheiros: recusar convite para jantar com a presidente Dilma Rousseff. Uma fonte do Palácio garante que a presidente não engoliu e que “a batata dele está assando”. Palavras da fonte que pediu para ter a identidade preservada.
Batata assando
Até a semana passada, Renan Calheiros era visto como fiel escudeiro da presidente Dilma Rousseff, no comando do Senado. Ele chegou a ser apontado como “consertador” dos possíveis estragos que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) poderia fazer em projetos de interesse do governo. Pela atuação, Renan Calheiros teria acreditado que seria blindado na operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Descobriu que não e armou-se na trincheira. Ainda segundo a mesma fonte, há tempos a presidente já sentia que a fidelidade do senador teria curta duração e que estava com pé atrás em todas as situações com ele.
Pé atrás
Uma das provas de que Dilma Rousseff estava com pé atrás em relação a Renan Calheiros, segundo a fonte do Palácio, é o fato de a presidente já ter prontinha uma versão do projeto de lei para enviar ao Congresso, com o mesmo teor da medida provisória que aumenta os impostos.
Sorriso caprichado
Um dos parlamentares que estiveram na reunião da base aliada com a presidente Dilma Rousseff confessou surpresa diante da simpatia da presidente e da pré-disposição demonstradas por ela. “A Dilma estava bastante sorridente”, disse o deputado. Aos aliados, a presidente garantiu fidelidade e portas abertas nos ministérios, conforme antecipado aqui, nesta coluna. Mas ainda assim, segundo ele, ficou evidente a tensão durante a conversa. “Senti que a presidente tem medo de fogo amigo”, disse o deputado.
Fogo amigo
A preocupação da presidente Dilma Rousseff com o fogo amigo tem todas as razões de ser. Isso ficou evidente na conversa deste jornalista com o novo líder da bancada do PMDB na Câmara, o deputado Leonardo Picciani (RJ). Conterrâneo do antecessor e presidente da Casa, Eduardo Cunha, Picciani deixou claro que reza na cartilha do colega de partido, a quem pede a bênção. Quando perguntado se atuaria a favor do governo na Câmara, o deputado nem pestanejou: “vou atuar é em defesa do Brasil e da governabilidade”, afirmou.
E como fica
Com Renan Calheiros e Eduardo Cunha na lista da Lava-jato, o PMDB fica de pés e mãos atolados na lama e isso liberaria os parlamentares do partido a apelar para o salve-se quem puder. Isso significa, segundo uma das lideranças da base aliada, que muitos podem se sentir tentados a debandar de vez para a oposição. E a oposição, por sua vez, está mais poderosa, neste momento. Não porque o estilingue está mais poderoso, mas porque a vidraça está cada vez mais fragilizada.
Vão-se os anéis…
Pouca gente percebeu, mas a revogação da autorização para os parlamentares usarem parte da verba de gabinete para pagar passagem aérea de esposas e maridos não representou nenhuma economia aos cofres públicos. Os parlamentares até deixarão de usar o dinheiro para isso, mas foi mantido o aumento para todas as despesas com parlamentares. Nesta verba estão incluídos gastos com funcionários nos estados, que acabam funcionando como cabos eleitorais permanentes, auxílio-moradia e outros. O aumento entra em vigor em abril e terá impacto de R$ 110 milhões por ano. A partir de 2016, a despesa extra será da ordem de R$ 150 milhões por ano.
Discussão sobre isso post