Alma lavada
E não é que depois de ir ao Congresso e em seguida pedir demissão do cargo, o ex-ministro Cid Gomes se tornou uma espécie de herói em Brasília? Aos deputados, e principalmente ao presidente Eduardo Cunha, Gomes disse abertamente o que se murmura em todos os corredores da capital. Até no Palácio do Planalto a alegria foi sentida. A saída do cargo é encarada como preço a ser pago por ter dito o que quase todo mundo do governo gostaria de dizer.
Caiu a ficha 1
Depois das manifestações de domingo, que levaram mais de um milhão de pessoas às ruas em todo o país, e da divulgação da pesquisa Datafolha, mostrando que a rejeição da presidente Dilma Rousseff chegou a 62%, a cúpula do governo se reuniu para traçar metas e tentar reverter o quadro. Um interlocutor do Palácio do Planalto informou que a presidente entendeu o momento e sabe que não basta um pacote anticorrupção para contornar a crise. Dilma também teria entendido que não basta admitir ainda que errou nas medidas de ajuste fiscal. A boa notícia, segundo este interlocutor, é que pela primeira vez a presidente e os principais assessores compreenderam que além de administrar é preciso fazer política. E por fazer política, entende-se, também, dar satisfações.
Caiu a ficha 2
É exatamente no quesito “dar satisfações” que o grupo da comunicação da presidente Dilma Rousseff vinha tentando convencer a presidente, há algum tempo. Falar mais com a população, por meio da imprensa, dar entrevistas, se explicar melhor para o eleitor, convencê-lo de que as medidas adotadas são importantes e por aí vai. Um conjunto de recomendações que não vinham sendo atendidas, mas que foi reforçado pelo ex-presidente e fiel conselheiro Luiz Ignácio Lula da Silva, que na reunião com Dilma Rousseff teria dito: “se não tem verba para gastar, gaste o verbo”. Portanto, se dirigir à população passa a fazer parte da lista de atividades da presidente.
Caiu a ficha 3
Mas além de dar satisfação, mandar pacote de medidas de combate à corrupção e sair em defesa da reforma política como ferramenta para moralizar as eleições e as campanhas eleitorais, a presidente Dilma Rousseff ainda precisa lidar com outra rejeição: a dos parlamentares. Uma pesquisa encomendada pela consultoria Arko Advice, uma das mais importantes empresas de assessoramento e consultoria política do país, mostra que a rejeição da presidente Dilma Rousseff chega a 50% entre os parlamentares. Número importante porque mostra que a desaprovação do desempenho da presidente também está entre os membros da bancada governista.
Por que é importante
Reduzir a rejeição entre os parlamentares é importante, segundo o cientista político Tiago de Aragão, diretor da Arko Advice, porque a presidente precisa de um trabalho conciso do Congresso para aprovar as medidas fundamentais para o ajuste fiscal. E neste exato momento as atenções dos deputados e senadores estão voltadas principalmente para as investigações da operação Lava-Jato, da Polícia Federal, e a CPI da Petrobrás. E muitos deles, preocupados em se defender das acusações. Ou seja: a presidente precisa de foco em uma casa de atenção difusa.
Congresso reprovado
Do jeito que está, na avaliação de um outro cientista político que presta consultoria ao Senado, as estimativas para a política não são nada boas. Isso porque, diante do sangramento de um governo que sofre os desgastes diante da opinião pública, existe um Congresso ainda mais enfraquecido, com atuação aprovada por apenas 9 por cento da população. É um verdadeiro salve-se quem puder.
Esperteza peemedebista
Mais esperto que a oposição e mais articulado que o PT, o PMDB se apressou ao apresentar uma proposta de reforma política, neste momento de crise, em que muitos defendem mudanças nas regras para combater a corrupção. E mais do que puxar para sai responsabilidade, a estratégia do PMDB é mostrar que o PT deveria, mas não fez a lição de casa, e que a oposição está perdida, sem ter para onde ir. A decisão teria saído de uma reunião de cúpula do partido, que entendeu que para não sair ainda mais respingado de todo esse processo, terá de tentar mostrar para o eleitor que tem compromisso com o país.
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