Segundo a Anvisa, o composto não causa depêndencia e será importado para aqueles que precisam tratar certas doêncas com maior facilidade
Por Marco Faleiro
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou em janeiro deste ano que o canabidiol (CBD), composto presente na maconha, não será mais proibido no país. Com usos no tratamento de epilepsia e mal de Parkinson, o canabidiol se tornou uma substância controlada, o que facilitará as pesquisas e o acesso ao fármaco.
Segundo o diretor-presidente da Anvisa, Jaime Oliveira, o CBD não causa dependência, não tem efeito psicotrópico e já é utilizado como remédio no Brasil. O grande problema era a dificuldade na importação para aqueles que necessitam do tratamento. Porém, apesar de nada revolucionária, a decisão revive um debate antigo: deve-se legalizar a maconha?
Sim
Como o objetivo de esclarecer a população quanto às possibilidades positivas do uso da maconha na medicina, o grupo Repense lançou o curtametragem “(IN)Justiça”, que conta a história da vítima do câncer de ovário Thaís Carvalho. No curta, Thaís usava maconha para aliviar os sintomas de náusea e dores da quimioterapia. O marido, Jairo, cultivava a planta para tratar da esposa. No fim, Jairo foi indiciado por tráfico internacional de drogas, já que importava as sementes da planta.
Já o famoso médico Dráuzio Varella defende iniciativas como as do Uruguai, que legalizou o uso recreativo da maconha no país. “A principal [razão para legalizar] é o fracasso retumbante da política de guerra às drogas”, disse. “A que levou a famigerada política de guerra às drogas, senão à violência urbana, crime organizado, corrupção generalizada, marginalização dos mais pobres, cadeias abarrotadas e disseminação do consumo?”
Não
Para o psiquiatra Valentim Gentil Filho, da USP (Universidade de São Paulo), o debate sobre a legalização deve ser muito mais amplo que as discussões embasadas na ideologia. “São necessários inúmeros testes antes que a comercialização seja autorizada. A maconha tem mais de 400 substâncias, além de muitas impurezas.”
Já o médico Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), afirma que “a droga piora fatores como depressão, ansiedade e bipolaridade”. Ele é contrário à liberação da droga. “Passamos anos esclarecendo os malefícios do cigarro e o uso de bebida alcoólica: a quem interessa e por que a legalização da maconha fumada deve ser fomentada?”
Opinião dos leitores
Vários leitores participaram do debate sobre a questão promovido pelo Folha Z nas redes sociais. Júnior Melo fez ressalva elaborada: “sou a favor, desde que tenha fiscalização eficaz, tributação bem elevada e devidamente aplicada em projetos de reabilitação de dependentes químicos e a distribuição da cannabis seja institucionalizada”. Contrário, Cleudison Alves foi direto: “hoje, quantas famílias estão sendo destruídas por causa das drogas? Começam pela maconha e terminam na cocaína. Se tivéssemos leis menos brandas, não existiria isso”.
Só uma certeza há nesse debate: a discussão é longa e o diálogo só pode trazer benefícios para a sociedade.
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