Fraude repugnante e necessidade de assepsia
Não basta simplesmente afirmar que corrupção é tudo igual ou que não há escala quando o assunto é desvio de caráter. Certas situações extrapolam o limite do suportável. A operação “SOS Samu”, deflagrada pelo Ministério Público, comprova que alguns seres humanos estão abaixo da linha do esgoto sanitário. Como um filho de Deus tem a capacidade de fraudar o sistema de regulação das unidades de saúde da Região Metropolitana de Goiânia, colocando em risco ou mesmo matando pacientes indefesos que dependiam de uma Unidade de Terapia Intensiva?
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Propinas de R$ 100 a 15 mil
Pergunta difícil de responder para 21 profissionais que foram detidos pelos promotores em Goiânia (16), Aparecida (4) e Senador Canedo (1). Entre eles, proprietários de empresas de UTI, donos de hospitais, médicos, diretores e funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Nem mesmo dois bombeiros escaparam da investigação. Confissões e transferências bancárias comprovaram que os valores das propinas para liberação de vagas em UTI variavam de R$ 100 a R$ 500 no caso de socorristas e R$ 10 mil a R$ 15 mil para os médicos.
Indução ao estado de coma
Agora fica fácil entender porque a obtenção de uma vaga em UTI sempre foi tão complexa e delicada para familiares em desespero. Não existia drama pessoal que conseguisse superar a malandragem de quem, para continuar controlando o leito na unidade de saúde, fosse capaz de rebaixar artificialmente o nível de consciência do paciente. Resumindo: trocava-se uma dose de glicose pelo medicamento Diazepan para induzir a vítima ao estado de coma e assim segurar a vaga.
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Mais máfias
Uma atitude revoltante e repugnante. A sociedade exige agora ampla divulgação e punição aos envolvidos. A operação “SOS Samu” deve servir como exemplo para extirpar outras máfias que permanecem agindo nas mais diversas áreas da saúde pública, entre elas no agendamento de consultas e na distribuição de medicamentos.
Limpeza não para
A fraude no sistema de regulação de vagas em UTI somente veio à tona em função da denúncia de um ex-servidor do Samu. O que não falta na rede de saúde, pública e particular, é funcionário descontente: ou com o nível rasteiro da corrupção ou por não estar fazendo parte dela. O Ministério Público, infelizmente, ainda terá muito trabalho até que a ética médica receba a assepsia necessária em Goiás.
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