Imagina se não fosse bacana dizer “Eeei, ‘Big Brother’ é ridículo, hahaha!”. Não, nem imagina. A verdade é que é muito interessante a imagem que desprezar o antiquíssimo programa de televisão confere a qualquer indivíduo.
Porque é disso que somos feitos. Escapamos da resignada ignorância da Idade Média; lutamos por genuínos ideais libertadores no início da segunda metade do século vinte, muitas vezes embriagados no “cálice da onda”, diga-se de passagem; banqueteamos sob as bandeiras da globalização e empanturramo-nos uns aos outros com informação. Tudo isso para chegarmos aqui e bradarmos ódio à falsidade e à indústria de massa.
Mas por trás de toda essa insurreição, buscamos o quê? Eu respondo à minha pergunta: buscamos esculpir uma imagem, polir a careca gorda e vendida, sermos absorvidos e aceitos e engolidos pelo sistema que tão levianamente acusamos e avidamente nutrimos.
Não que eu goste de “Big Brother”. Não gosto, mas não escrevo isso na minha testa ou no status do Facebook, enquanto secretamente assisto à merda toda (é o “guilty pleasure” de muitos, eu sei).
Até porque, pra mim, “BBB” é como quase todo o resto da programação da televisão brasileira. Tem mulheres objetificadas? Padrões de beleza discriminatórios? Publicidade animalesca agredindo os olhos? Sim. Mas é isso que vejo nas aclamadas novelas. Engraçado como num país onde os negros são quase metade da população, estes mesmos não são nem uma fraçãozinha dos participantes do programa. Ah, isso me lembra dos milhares de protagonistas de novelas que são negros…
Acho que ninguém sai por aí dizendo que a merda A é asquerosa, enquanto a B nem é tanto assim, dá até pra comer. Por isso mesmo não deviam sentar nos seus rabos hipócritas e dizer que “BBB” é uma ofensa à inteligência do povo brasileiro.
O mundo inteiro é uma ofensa à inteligência do ser humano.
A miséria de muitos em face da riqueza absurda de outros é uma ofensa. As perseguições discriminatórias por qualquer motivo são uma ofensa. O consumismo predatório é uma ofensa.
Não o “BBB”. Todos sabemos que a televisão só produz o que muita gente está disposta a comprar. Ele é só um reflexo da sua própria burrice. Da minha burrice, da nossa. Conforme-se com isso.
*Esse texto foi publicado originalmente no Machado de Eugênio, no longínquo ano do fim do mundo, 2012.
Marco Faleiro é estudante de jornalismo e já tem mais de duas mil horas de seriados assistidos – [email protected]
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