Um divã para Adão
A reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” está aí pra todo mundo ver. No Brasil, a cada quatro minutos, uma mulher é agredida por um homem e sobrevive.
O aumento do número de casos é expressivo, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Alarmante ou revoltante seriam adjetivos mais recomendáveis.
A exposição diária de casos de violência contra a mulher tem estimulado – e não inibido – o homem a agir com requintes de crueldade.
“Eu teria feito pior”, retrucou um colega na mesa do bar ao ouvir o relato de uma agressão. “Não aceito mulher minha e os filhos morando com outro homem”.
Silêncio absoluto num ambiente com seis barbudos, legítimos representantes da classe média. Percebi que a maioria concordava com a “sentença”. Mudei o rumo da prosa.
Como discutir algo tão complexo, com equilíbrio e imparcialidade, se somente em 2018 foram notificados no país 145 mil casos de violência física, sexual, psicológica e de outros tipos contra a mulher?
É possível imaginar que o dobro de agressões – ou talvez o triplo – sequer chegue ao conhecimento das autoridades responsáveis.
Os agressores
Mais de 70% dos casos ocorrem em residências e são cometidos, principalmente, pelo ex ou atual marido ou namorado.
Nessa lista ainda estão incluídos pai, padrasto, irmão e filho. Clara demonstração de que o radicalismo masculino continuará espancando o grito e a busca por liberdade de comportamento das mulheres.
O combate resulta em 4,7 assassinatos no universo de 100 mil habitantes. Estatística que deveria envergonhar todos os “cidadãos de bem” de um país.
Não há qualquer sinal de mudança, a curto prazo, nesta relação. A força e a violência permanecem impregnadas na cabeça do homem para a resolução de conflitos.
Em outros diálogos também ouvi de conhecidos que a mulher moderna “aprendeu a provocar, desafiar, xingar, retrucar, ameaçar e trair”. E que por isso enfrenta as consequências pela rebeldia.
Minha “colher” não tem qualificação e experiência suficientes para mexer nas particularidades da convivência homem-mulher.
Mas eu ainda acredito na força do espírito desarmado para acalmar relações. O mundo não vai ficar melhor agredindo ou dizimando o sexo oposto.
Mesmo havendo divergência nos textos bíblicos, Adão e Eva são símbolos da origem humana. Ao barro retornarão, rapidamente, se a escalada da estupidez não diminuir.
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