Quem dera a Polícia Federal criasse um departamento específico para investigar a aplicação de recursos por parte de entidades esportivas país afora. O noticiário seria contemplado, certamente, com um escândalo por dia. Hoje foi a vez da Operação Águas Claras, onde está sendo investigado o desvio de R$ 40 milhões em verbas públicas por parte da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA).
As denúncias partiram de atletas, ex-atletas e empresários. Resumo da ópera náutica: Coaracy Nunes, o presidente preso com vários comparsas, era uma espécie de dublê do empresário Ricardo Teixeira, o ex-manda-chuva da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Entre eles, a coincidência de décadas de reinado e uma folha corrida de fazer inveja aos protagonistas da Operação Lava Jato. Coaracy está no comandando da CBDA há 29 anos.
Porta para corrupção
O histórico de mando, desmando e perpetuação na cadeira é sinônimo de picaretagem. Incontáveis convênios e leis de fomento ao esporte, nas três esferas de poder, representam a porta de entrada para a corrupção desenfreada. Arrisco-me a dizer que não existe outra área tão sensível a fraudes, aproveitando o entusiasmo do povo brasileiro pelas competições esportivas, em especial o futebol.
Outras modalidades onde investigações comprovaram atos ilícitos em função do maior rigor na checagem de denúncias e fiscalização: voleibol, basquete, futebol de salão e atletismo. Auditorias de rotina nestas confederações seriam capazes de detectar as irregularidades, mas ninguém quer saber de transparência.
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Maracutaias conhecidas
O lixo somente vem à tona quando interesses são contrariados. No caso da Operação Águas Claras, investigação que uniu Polícia Federal, Ministério Público Federal e Controladoria-Geral da União, os envolvidos em São Paulo e no Rio de Janeiro foram acusados de peculato, associação criminosa e fraude na Lei de Licitações.
As maracutaias eram conhecidas nos demais estados da federação, muitas delas atingiram o nível mais elevado de amadorismo, entretanto a lei do silêncio só é rompida em casos extremos de abuso de poder ou traição. Caso contrário, o lixo permanece intocável, protegido pelo tapete da impunidade. Quase três décadas na CBDA.
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