A morte que faz rir e cantar
“Quando eu morrer quero ir de fralda de camisa. Defunto pobre de luxo não precisa”. A letra da música interpretada pelo grupo “Os Originais do Samba” nunca saiu da minha cabeça nos cemitérios da vida. A pergunta que incomodava: o ambiente em velório precisa mesmo ser tão triste, tão carregado? Sempre respeitei, mas nunca concordei com o baixo astral. Lendo hoje a história do comerciante Gleisson Silva compreendi o quanto o ser humano bem resolvido pode proporcionar satisfação e alegria mesmo nas horas que antecedem o próprio sepultamento.
Velório com cerveja
Dono de bar em Cachoeiro do Itapemirim (SP), Gleisson morreu após sofrer um acidente vascular cerebral e foi velado com direito a roda de samba e cerveja para amigos e conhecidos em seu estabelecimento no dia 12 de fevereiro. Contado pelo portal de notícias G1, o caso inusitado teve grande repercussão nas redes sociais. Confesso: o capixaba passou a ser minha fonte de inspiração. Fiquei com uma pontinha de inveja ao saber que o velório reuniu cerca de 3 mil pessoas e foram consumidas 11 caixas de litrão e outras 20 caixas de latão de cerveja, além de 15 litros de cachaça. Tudo de graça.
Felicidade sem vergonha
Gláucio Silva, filho de Gleisson e hoje no comando do bar, simplesmente cumpriu o desejo do pai, um boêmio avesso a lamentações e defensor intransigente da música e da diversão. Foi dessa forma que viveu 68 anos, 44 deles casado e teve 4 filhos. Se há uma certeza para aqueles que ficaram é que o sambista morreu feliz, despreocupado com os rígidos padrões da sociedade. Teve até adaptação de um sucesso do cantor Gonzaguinha na festa-velório: “Morrer, e não ter a vergonha de ser feliz…”
Caminho a seguir
Desta forma torno público, não por acaso, que a partir desta sexta-feira, 19 – data em que completo 47 anos de existência – passarei a elaborar uma despedida nos moldes do sambista. Conto com a compreensão e a colaboração dos filhos, além dos demais parentes. Caso não tenha competência para adquirir um “copo sujo”, o plano B será recorrer ao aluguel de um dos botecos que costumo frequentar no dia-a-dia. Pelo menos dois proprietários achariam a ideia espetacular, tenho certeza, desde que não ficassem no prejuízo.
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Questão de escolha
A imagem de um caixão no interior do bar pode até causar perplexidade e revolta em religiosos das mais variadas tendências, todavia representa o legítimo estado de espírito do “protagonista”. O festivo velório de Gleisson Silva não foi o único e nem será o último do gênero, sem qualquer prejuízo às orações e ao momento reflexivo do sepultamento. Por isso estou entrando, definitivamente, na lista de adeptos ao estilo “de bem com a morte”.
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