Por meio de um software israelense, a Polícia Civil conseguiu recuperar mensagens de celular em que a babá de Henry Borel relata para a mãe em tempo real uma possível sessão de tortura pela qual o garoto passou.
A criança, de 4 anos, morreu no dia 8 de março, na Barra de Tijuca, Zona Oeste do Rio.
Naquela madrugada, ele já chegou sem vida ao hospital, com hemorragia e edemas.
O laudo apontou que a causa da morte foi “hemorragia interna e laceração hepática [danos ao fígado] causada por uma ação contundente [por pancada]”.
Um mês depois, nesta 5ª feira (8), a Polícia Civil prendeu os 2 principais suspeitos do crime: o padrasto, vereador Dr. Jairinho (afastado do Solidariedade), e a própria mãe do menino, Monique Medeiros da Costa Silva de Almeida.
Mensagens
Foram determinantes para decretarem as suspeitas dos investigadores as mensagens recuperadas do celular de Monique.
Prints das conversas dela com a babá no WhatsApp haviam sido apagados, mas a polícia conseguiu recuperar o conteúdo da conversa graças a um software israelense.
No diálogo, de 12 de fevereiro, a babá alerta a mãe, que não estava em casa, para o fato de que Jairinho chegara inesperadamente e havia se trancado no quarto com Henry.
Na sequência, ainda conta para Monique que a criança, ao sair do quarto, contou que levou uma banda (rasteira) e chutes, além de ter reclamado de dores no joelho e na cabeça.
Confira o teor das mensagens reproduzidas de reportagem do G1:
16:30 – BABÁ: Aí logo depois Jairinho chamou ele para ver que comprou algo
16:30 – MONIQUE: Chama
16:30 – MONIQUE: Aí meu Deus
16:30 – BABÁ: Aí ele foi para o quarto
16:30 – MONIQUE: Estou apavorada
16:30 – BABÁ: De início gritou tia
16:30 – BABÁ: Depois tá quieto
16:30 – BABÁ: Aí eu respondi oi
16:30 – BABÁ: Aí ele nada
16:30 – MONIQUE: Vai lá mesmo assim
16:30 – BABÁ: Tá
16:31 – MONIQUE: Fala assim: sua mãe me ligou falando para vc ir na brinquedoteca brincar com criança
16:31 – MONIQUE: E fica lá um tempo
16:31 – MONIQUE: Jairinho não falou que ia para casa
16:31 – BABÁ: Então eu chamo e nenhum dos dois falam nada
16:31 – MONIQUE: Bate na porta
16:32 – BABÁ: Não respondem
16:32 – MONIQUE: E aí
16:32 – BABÁ: Eu só escuto voz de desenho
16:32 – BABÁ: Acho melhor você vir
16:32 – MONIQUE: Entra no quarto mesmo assim
16:32 – BABÁ: E daí se tiver acontecendo algo você vê
16:32 – BABÁ: Fico com medo do Jairinho não gostar da invasão
16:32 – BABÁ: Pera vou tentar abrir a porta
16:32 – MONIQUE: Ele não tem que gostar de nada
16:32 – BABÁ: Abriu a porta do quarto
16:32 – MONIQUE: E aí?
16:32 – MONIQUE: Aí meu pai amado
16:35 – MONIQUE: Deu ruim?
16:35 – MONIQUE: Sabia
16:35 – MONIQUE: Pergunta tudo
16:35 – MONIQUE: Pergunta o que o tio falou
16:35 – BABÁ: Então agora não quer ficar na sala sozinho
16:35 – BABÁ: Só quer ficar na cozinha
16:36 – BABÁ: Jairinho falou para mim: deixa a mãe dele fazer as coisas
16:36 – MONIQUE: Pergunta se ele quer vir pro shopping?
16:36 – BABÁ: Não liga não
16:36 – BABÁ: Falei não to falando com ela não
16:36 – BABÁ: To falando com minha mãe
16:36 – BABÁ: Ai ele ah tá
16:36 – BABÁ: To sentada com ele na sala
16:36 – BABÁ: Vendo desenho
16:36 – MONIQUE: Fala que vai na brinquedoteca
16:36 – MONIQUE: Eu mando um uber
16:37 – BABÁ: A rose ta fazendo as coisas
16:37 – MONIQUE: Ai meu Deus
16:37 – MONIQUE: Que merda
16:37 – MONIQUE: Ver se ele quer sair de casa
16:37 – BABÁ: Tô falando com ele
16:37 – MONIQUE: Ou ficar aí
16:37 – BABÁ: Ele quer que eu fique sentada ao lado dele só
16:37 – MONIQUE: Coitado do meu filho
16:37 – BABÁ: Jairinho tá arrumando a mala
16:37 – MONIQUE: Se eu soubesse nem tinha saído
16:38 – MONIQUE: Pergunta o que o tio falou
16:38 – MONIQUE: Fala assim: tio Jairinho é tão legal, o que ele falou com vc?
16:38 – BABÁ: Jairinho tá aqui perto
16:38 – BABÁ: Depois pergunto
16:38 – MONIQUE: Ok
16:38 – BABÁ: Jairinho tá andando pela casa
16:38 – BABÁ: Acho que prestando atenção no que eu tô fazendo
16:38 – MONIQUE: Ok
16:38 – MONIQUE: Daqui a pouco vc me fala
16:39 – BABÁ: Aí disfarço
16:39 – BABÁ: Abro outra conversa
16:39 – MONIQUE: Ok
16:39 – BABÁ: Tá bem
16:39 – BABÁ: Tá comigo na sala
16:39 – BABÁ: Qualquer coisa te falo
16:39 – MONIQUE: Ok
16:46 – MONIQUE: Da um banho nele
16:46 – MONIQUE: Pra ver se ele relaxa
16:46 – BABÁ: Ele não quer entrar ali no corredor
16:47 – MONIQUE: Pqp
16:47 – MONIQUE: Que merda do caralho
16:47 – MONIQUE: Coitado
16:47 – BABÁ: Quer ficar assim no meu colo
16:47 – BABÁ: Tá reclamando que o joelho está doendo
16:47 – MONIQUE: O que será que aconteceu?
16:47 – BABÁ: Rose até perguntou se ele tinha machucado o pé
16:50 – MONIQUE: O que
16:50 – BABÁ: Você um dia falar que vai demorar na rua
16:50 – BABÁ: E ficar aqui em algum lugar escondida
16:50 – BABÁ: Ou lá em baixo
16:50 – BABÁ: E chegar do nada
16:50 – MONIQUE: Ele foi pro nosso quarto ou o do Henry?
16:50 – BABÁ: Para o seu quarto
16:51 – MONIQUE: Eu vou colocar microcâmera
16:51 – BABÁ: E sempre no seu quarto
16:51 – MONIQUE: Me ajuda a achar um lugar
16:51 – MONIQUE: Depois eu tiro
16:51 – BABÁ: Meu padrinho instala câmeras
16:51 – BABÁ: Tem até empresa de câmera
16:51 – MONIQUE: Mas tem que ser imperceptível
16:51 – BABÁ: Porque não tá normal
16:51 – MONIQUE: Vdd
16:52 – MONIQUE: Vai me avisando se ele falar alguma coisa
16:52 – BABÁ: E eu tenho medo pq cuido dele com muito amor e tenho medo até dele cair comigo. Aí não sei o que Jairinho faz quando chega, depois ele tá machucado sei lá
16:52 – BABÁ: Tá bem
16:52 – MONIQUE: Tô aqui de olho no telefone
16:52 – BABÁ: Tá bem
17:02 – MONIQUE: Alguma coisa estranha mesmo
17:02 – MONIQUE: Jairinho me ligou
17:02 – MONIQUE: Dizendo que chegou agora em casa
17:02 – BABÁ: Po
17:02 – BABÁ: Já chegou um tempão
17:03 – MONIQUE: Estranho demais
17:03 – BABÁ: Tá comigo comendo bolo
17:03 – MONIQUE: Ele vai no barrashopping
17:03 – BABÁ: Muito
17:03 – MONIQUE: Fala pro Henry que o tio vai sair pra trabalhar de novo
17:03 – MONIQUE: Que eu já já chego
17:03 – BABÁ: Tá
17:16 – BABÁ: Saiu agora
17:16 – BABÁ: Tá eu e Henry em casa só
17:19 – MONIQUE: Veja se ele fala alguma coisa
17:22 – BABÁ: Estou tirando dele
17:22 – MONIQUE: Ok
17:22 – BABÁ: Pera aí
17:25 – BABÁ: Então me contou que deu uma banda e chutou ele que toda vez faz isso
17:25 – BABÁ: Que fala que não pode contar
17:25 – BABÁ: Que ele perturba a mãe dele
17:26 – BABÁ: Que tem que obedecer ele
17:26 – BABÁ: Se não vai pegar ele
17:28 – BABÁ: Combinei com ele agora
17:29 – BABÁ: Toda vez que Jairinho chegar e você não tiver eu vou chamar ele pra brinquedoteca e ele vai aceitar ir
17:29 – BABÁ: Porque estou aqui pra proteger ele
17:29 – BABÁ: Aí eu disse se você confia na tia me da um abração aí ele me deu
17:30 – BABÁ: Tá assim comigo
17:33 – MONIQUE: Como assim? (se referindo ao trecho “Se não vai pegar ele”)
17:33 – BABÁ: Ele não falou mais
17:49 – BABÁ: Tá mancando
17:50 – BABÁ: Mas tô cuidando dele
17:50 – BABÁ: Termina tudo em paz
17:50 – BABÁ: Quando você chegar a gente se fala
17:50 – BABÁ: Vou dar banho nele
17:50 – BABÁ: Beijos
17:51 – MONIQUE: A porta do quarto estava aberta ou fechada qdo Henry entrou no quarto?
17:57 – BABÁ: Quando Henry entrou estava aberta
17:57 – BABÁ: Depois ele fechou
17:57 – BABÁ: E daí ficou até aquela hora com a porta fechada
17:58 – BABÁ: Henry tá reclamando da cabeça
17:58 – BABÁ: Pediu tia não lava não
17:58 – BABÁ: Tá doendo
17:58 – MONIQUE: Meu Deus
17:58 – MONIQUE: Como assim?
17:58 – MONIQUE: Pergunta tudo
17:58 – MONIQUE: Será que ele bateu a cabeça?
18:03 – BABÁ: Ele disse que foi quando caiu que a cabeça ficou doendo
Sequência do caso
Na representação ao Ministério Público, a PC apontou que o que ocorreu foi um homicídio duplamente qualificado por tortura e por emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Jairinho e Monique estão presos preventivamente.
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